Sempre penso em como o processo de pintar uma tela se
parece com as coisas que vivo no cotidiano. Se a vida imita a arte eu não sei,
mas sei que é preciso aceitar, respeitar e até saber me aproveitar dos erros, dando
sentido aos inúmeros que cometo.
Assim é que,
enquanto muitas idéias surgem e fluem para a tela, outras só acontecem a partir do fracasso de um
projeto. Para mim essas são as melhores, ou as que mais me animam por me
surpreenderem. Acho graça de meus erros,
pela constatação que nem sempre controlo todos os gestos. As imagens, cores e
texturas por vezes tomam vida própria a partir do momento que deixam de fazer
parte do meu mundo interior e vão surgindo a revelia. Mas algo de inusitado
pode acontecer, como um presente do acaso. Aprendi que não adianta brigar com a
realidade nessa hora: é melhor acompanhar o que está surgindo, seguir a onda –
como se eu fosse surfista - e tirar partido do que se apresenta. E aí é que
fica mais divertido!
Poderia tentar explicar que aquela parte menos consciente
me traiu, ou quem sabe ajudou, se foi por isso ou por aquilo, mas seja como
for, não se pode nunca ter absoluta certeza do que vai acontecer com a gente
nem com a tela.
Um bom aprendizado
para quem ainda não aceitou inteiramente que na arte, na ciência ou na vida, o acaso também pode ser bem-vindo.